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Compartilhar minha época (nascido em 70 e descobrindo quem eu sou na década de 1980) com a geração Z não é fácil. O modo de abordar, minha linguagem, pode ser pela música do meu tempo, representada por bandas como Ultraje a Rigor, RPM, Paralamas, Barão, Legião, Titãs, Ira, Capital Inicial e Plebe Rude, que podem mostrar o que o País vivia naquele tempo e os desejos da classe média de então.

Assim, quando o Legião Urbana gritava em Que País é este? “- Nas favelas, no Senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a Constituição/ Mas todos acreditam no futuro da Nação” era a ideia da esperança, aquela próxima a do filósofo Pascal, que colocava no futuro a nossa felicidade.

A crítica social era absurda, por meio do clássico Inútil do Ultraje a Rigor, que expunha/expõe: “A gente não sabemos escolher presidente/ A gente não sabemos tomar conta da gente/ A gente não sabemos nem escovar os dente/ Tem gringo pensando que nóis é indigente”.

E continuava com a Plebe Rude, meio marxista, quando dizia: “Sei / Não é nossa culpa/ Nascemos já com uma bênção/ Mas isso não é desculpa/ Pela má distribuição/ Com tanta riqueza por aí, onde é que está/ Cadê sua fração/ Até quando esperar/ A plebe ajoelhar/ Esperando a ajuda do divino Deus.” (Até quando esperar)

A pós-verdade, palavra da moda nestes últimos meses por conta da eleição de Trump nos EUA, do Brexit na Europa, e do plebiscito das FARC na Colômbia, já era refrão do Barão Vermelho em Maior Abandonado: “Migalhas dormidas do teu pão/ Raspas e restos/ Me interessam/ Pequenas porções de ilusão/ Mentiras sinceras me interessam/ Me interessam...”

O que o Rio está passando hoje, por conta da crise do Estado (tanto financeira como por conta de poderes paralelos do crime organizado e milícias, além da corrupção na política) já era alardeado na letra de Alagados, sucesso do Paralamas do Sucesso, que explicava: “E a cidade que tem braços abertos num cartão postal/ Com os punhos fechados na vida real lhe nega oportunidades/ Mostra a face dura do mal”.

A “rapaziada” do meu tempo então cantava com o Capital Inicial, em Música Urbana a ideia de que “Contra todos e contra ninguém/ O vento quase sempre nunca tanto diz/ Estou só esperando o que vai acontecer”. E continuamos esperando...

Mas o hino final, aquele que ficávamos esperando para gravar nas nossas fitas cassetes era Rádio Pirata, do RPM, que cravava uma ideia final: “Toquem o meu coração/ Façam a revolução/ Que está no ar/ Nas ondas do rádio/ No submundo repousa o repúdio/ E deve despertar.”

E despertou. Fizemos uma nova Constituição, votamos para presidente, tiramos um presidente. Elegemos um sociólogo, fizemos reforma na economia, elegemos um torneiro mecânico e o país cresceu, a miséria diminui, a educação floresceu para uma camada da população que nunca sonhou que poderia estudar.

Discriminações e preconceitos diminuíram. Elegemos uma mulher para presidente e a tiramos do poder. E agora? Voltamos no tempo. A banda Ira! esclarecia na música Núcleo base que: “Eu tentei fugir não queria me alistar/ Eu quero lutar, mas não com essa farda.”

Com isso, sabemos que o “pulso ainda pulsa/ E o corpo ainda é pouco/ Ainda pulsa/ Ainda é pouco,” como os Titãs abordaram, e essa angústia Kierkegaardiana continua na mente daquela geração. E que geração. E a Z? Qual é a sua música?


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