A
questão do que vem a ser a ética gira em torno de buscar fundamento para
decisões importantes que devemos tomar durante a nossa vida.
Quando
a estudamos, temos que analisar o sentido da palavra por meio da história e
esta começa pelos gregos. Estes imaginavam que nós estávamos ligados a uma
ideia de mundo finito e ordenado. Logo, este mundo teria um funcionamento
correto e nós fazíamos parte desta funcionalidade. Para tanto, deveríamos,
então, encontrar nossas habilidades e nossos talentos dentro deste mundo
organizado. Ao descobrir nossa funcionalidade dentro deste mundo perfeito,
deveríamos – logo a seguir – potencializá-la, atualizá-la e, com isso, teríamos
uma vida boa, seríamos homens virtuosos.
Com a
descoberta de Galileu e Copérnico de que nosso mundo não tem nada de finito e
organizado, então nosso padrão de conduta grego – agir de acordo com a
funcionalidade do cosmos – cai por terra e, de agora em diante, o homem terá
que buscar saídas, outra formas de resolver os conflitos da convivência humana,
por nós mesmos, por nossa deliberação, sem esperar nada do cosmos. Tudo vai
depender, então, da nossa inteligência.
Nesse
momento surge Maquiavel com a ideia da consequência, de uma ética de resultado,
isto é, uma conduta será ética quando produzir bons resultados. Claro que o
problema que surge, de imediato, é de que se uma conduta vale pelos resultados,
então ela não vale por si mesma. Então, se a consequência é ruim, a conduta
também será considerada ruim. Logo, a dúvida que surge é qual será a boa
consequência? Veja que a questão central é: julgar a conduta pela conduta é
diferente de julgar a conduta pelo resultado.
Deste
problema surgiram algumas correntes de pensamento, sendo uma delas denominada
utilitarismo, onde o bom resultado será analisar a questão da felicidade, ou
seja, uma consequência boa é aquela que traz a felicidade ao maior número de
pessoas. Usamos muito este pensamento quando pautamos a vida por estatísticas,
porcentagens.
Outra
ideia foi a pragmática, que leva a entender como um bom agir, aquela conduta
que permite ao ser conseguir aquilo que ele queria, que é a ideia do bom
resultado. Ora, se eu consegui aquilo que eu quero, então a conduta foi boa,
foi ética. O problema aqui é que ninguém se preocupa com o outro, isto é, com
quem está ao seu lado, por exemplo, já que este é usado como um instrumento
(uma coisa) do sucesso daquele que agiu de forma pragmática.
Algumas
questões polêmicas que surgem são as seguintes: ao agir, ao praticar uma
conduta, acabamos produzindo alguns efeitos na vida prática, mas não posso dar
mais valor aos efeitos do que à conduta.
Se um
funcionário do departamento de vendas vier a ter grande sucesso no final do
mês, mas descobrirmos que ele mentiu para vender bastante, poderíamos afirmar,
pelo consequencialismo, que mentir é ético? Não se pode, então, reduzir o valor
de uma conduta à consequência da mesma.
Outro
problema está ligado à ideia de felicidade das pessoas, da maioria do povo.
Será que eu não tenho que pensar na minoria? Se abandonarmos a minoria
estaremos repetindo antigos problemas dos quais poderemos lembrar, como as
injustiças que foram feitas contra Jesus ou Sócrates, por exemplo.
Mas,
no momento em que formos praticar uma conduta, como é que saberemos se ao agir
estaremos provocando uma grande felicidade nas pessoas ao nosso redor? O senso
comum demonstra que só saberemos se fizermos a coisa certa, de forma ética, só
depois que agirmos, com o efeito em mãos.
Daí
aparece Kant, um filósofo que vai criticar o consequencionalismo, isto é,
julgar as condutas pelos efeitos que ela gera. Para ele, a conduta será ética
se analisarmos a própria conduta. A conduta humana, então, deverá obedecer
alguns princípios. Claro que se minha conduta gerar problemas no futuro, não
poderemos fazer nada, mas quando formos praticá-la, deveremos fazer uma
reflexão sobre os princípios, isto é, agir de uma forma que todo mundo possa
agir, fazer da mesma maneira, de forma igual, desinteressada, portanto.
O
problema do pensamento kantiano é que não dá para universalizar tudo, isto é,
falar que todo mundo pensará igual, pois poderemos mentir, por exemplo, para
salvar uma vida. E isto ocorre porque existem, na vida, diversos valores, e
estes são complexos, isto é, cada valor possui um contrário, como explica o
pensador Edgard Morin. Não existe uma tabela, uma hierarquia de valores e,
portanto, não é possível universalizar tudo na vida.
O que
surge logo em seguida, na história do pensamento humano, é a ideia da ética da
argumentação, do filósofo Habermas. A proposta agora é a discussão de quais
valores, em algum momento da vida, iremos escolher numa determinada conduta,
qual dos valores da vida irá permanecer?
Claro
que esta ideia surge para aqueles que não são pautados por uma religião, por
dogmas, já que estes seguirão os valores escolhidos pelo seu líder. Mas, no
Brasil, com a ideia do Estado laico, qual ideia escolheremos para a nossa
convivência política?
Habermas
propõe que a escolha deve ocorrer no debate de ideias. Percebe-se, então, que a
ética nada tem a ver com estarmos ligados a um mundo perfeito dos gregos, nem a
princípios universais, muito menos àqueles que geram uma maior felicidade ou
consequência.
A
ética será uma eterna busca de argumentação para descobrirmos o melhor
princípio a ser adotado em determinada situação impactante, que o filósofo
chamou de espaço público, no qual todos nós somos convidados a participar a fim
de explicarmos e dizer quais regras, quais caminhos desejamos seguir.
A
ideia contemporânea de ética, então, é participar da criação das regras de
convivência humana e respeitá-las, portanto. Temos, então, uma perspectiva
normativa e uma perspectiva aplicada. A ética hoje permite, então, mudar as
regras do jogo, pois de forma coletiva podemos mudar as regras de convivência e
com isso aperfeiçoar as regras do jogo.
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