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Afinal, empresas públicas precisam justificar a demissão de empregados concursados? O que decidiu o STF no Tema 1022

Nos últimos anos, uma discussão importante tem ganhado espaço no Direito do Trabalho e no Direito Administrativo: é necessária a motivação para demitir empregados concursados de empresas públicas e sociedades de economia mista?

O Supremo Tribunal Federal enfrentou essa questão no Tema 1022 da Repercussão Geral, e sua decisão recente trouxe clareza — e impacto direto — para milhares de empregados e para a gestão das entidades da Administração Pública indireta.

O que o STF decidiu?

O STF fixou a seguinte tese jurídica:

Empresas públicas e sociedades de economia mista — prestadoras de serviço público ou exploradoras de atividade econômica, inclusive em regime concorrencial — têm o dever jurídico de motivar, em ato formal, a demissão de seus empregados concursados.

Não é necessário instaurar processo administrativo, mas é imprescindível indicar, por escrito, o motivo da dispensa.

Essa motivação não precisa se enquadrar nas hipóteses de justa causa previstas na CLT, mas deve ser minimamente razoável.

Ou seja, o STF reconhece que, embora tais entidades atuem sob lógica muitas vezes similar à das empresas privadas, elas também integram a Administração Pública e, portanto, devem observar os princípios da impessoalidade, moralidade e publicidade.

E o que não se exige?

O Supremo foi claro:

📌 Não é preciso instaurar um processo administrativo disciplinar;

📌 Não há necessidade de contraditório ou ampla defesa;

📌 A exigência limita-se à formalização da motivação, garantindo transparência.

Trata-se de uma solução de equilíbrio: protege o empregado concursado contra arbitrariedades, sem burocratizar excessivamente a gestão dessas entidades.

A modulação de efeitos

Um ponto crucial do julgamento foi a modulação de efeitos — algo essencial para segurança jurídica.

O STF definiu que a tese jurídica só vale a partir da publicação da ata de julgamento, ocorrida em 04/03/2024.

Em outras palavras:

➡️ Dispensas ocorridas antes dessa data não obrigam motivação formal, ainda que haja controvérsia judicial.

➡️ A partir de 04/03/2024, toda empresa pública e sociedade de economia mista deve apresentar motivação escrita ao desligar empregados concursados.

Por que isso importa?

Essa decisão afeta diretamente:

  • gestores públicos e dirigentes de empresas estatais;
  • empregados concursados dessas entidades;
  • advogados que atuam no contencioso trabalhista envolvendo entes da Administração indireta.

A exigência de motivação formal reforça a transparência e a previsibilidade dos atos de gestão, reduzindo espaço para arbitrariedades e fortalecendo o ambiente jurídico-institucional.

Reflexão final

O Tema 1022 consolida um movimento do STF no sentido de reforçar os princípios da Administração Pública, mesmo em entes que atuam em atividades econômicas.

A motivação não é uma mera formalidade: é um instrumento de controle, respeito ao concursado e compromisso com a racionalidade dos atos de gestão.


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